5 de maio de 2010

Alô, alô Terezinha: o brilho decadente de uma estrela

Por Douglas Caputo e Wanderson Nascimento


As coloridas décadas de 1970 e 1980 sublinharam a ascensão do popular e do humor fácil. O apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha, expressão máxima dessa tonalidade, emprestou o estridente som de sua buzina a esta realidade que pescava bacalhaus e descascava abacaxis num palco armado para divertir através do grotesco.
O contexto político da época foi marcado pela claustrofóbica censura dos governos militares. Alheio a esta conjuntura, Chacrinha encenava nas tardes de sábado o colorido país em que todos tinham voz. Calouros aspirantes a cantores empunhavam o microfone, para o bem ou para mal, o último hit da moda.


No documentário Alô, alô Terezinha, o diretor Nelson Hoineff não entra no mérito da Ditadura. Mostra Chacrinha às voltas com talentos, bizarrices e beldades quase nuas. Não por acaso o filme, em uma hora e meia, dedica-se ao depoimento de calouros ressentidos, chacretes decadentes e cantores populares, como Roberto Carlos, Jerry Adriani e Wanderlei Cardoso que se projetaram por meio do Cassino e da Discoteca do Chacrinha.

Os cenários do documentário nem de longe lembram o cintilante estilo do Velho Guerreiro. Passa-se em subúrbios pobres do Rio de Janeiro e de Recife de 2007, com pessoas frustradas pela buzina da reprovação ou com ex-assistentes de palco decaídas, velhas e amargas com o anonimato, com a pobreza e com os rentáveis amores perdidos.

Mas a dura realidade de mais de duas décadas após a morte do apresentador é atenuada. O cantor Alceu Valença relata que “o chão de Chacrinha foi a cultura popular, foi o frevo, foram as marchinhas de carnaval, foram os pastoris”. O filme mostra esse lado positivo do Velho Guerreiro através de cenas de um bom arquivo e depoimentos de pessoas que deram certo graças ao programa, como a ex-chacrete Rita Cadillac, que ascendeu graças ao apelo sexual que produz até hoje na mídia, e o cantor Fábio Júnior.

O filme provoca uma miscelânea de sentimentos que vai do riso à comoção, do asco à piedade. Aos momentos hilários, juntam-se os tristes. O ex-calouro Almir dos Santos, fã de Agnaldo Timóteo, é um estereótipo ridicularizado socialmente, excluído pela lancinante buzina de Chacrinha. No filme, contudo, canta sua música inteira e é aplaudido pela pequena plateia que lhe assistia. Se Chacrinha ficou conhecido por apadrinhar o Tropicalismo, não faltam acusadores no documentário das crueldades do apresentador. Para muitos ele simplesmente ridicularizava e tolhia os sonhos de populares que se arriscavam à sua buzina ácida.

O documentário Alô, alô Terezinha mostra os matizes de uma época em que a o brilho ofuscante prevalecia. Camuflava-se a realidade nacional nas tardes de sábado com o sonho de uma vedetização para poucos escolhidos. Por isso, rever as peripécias de Chacrinha significa revisitar um apresentador explorando estereótipos para provocar o riso, fazendo uma exposição escarnecedora de calouros desdentados, gays, gagos, feios, (ou todos esses atributos juntos) e ridicularizando os que levavam um troféu-abacaxi.

Um comentário:

  1. o filme realmente tem umas cenas contraditórias... a gente não sabe se ri ou se chora!!!

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